Costa Rica / Nicarágua / El Salvador / Guatemala / Belize / Honduras
24.09.2006 Domingo
Partimos do aeroporto Francisco Sá Carneiro (Pedras Rubras) às 9.05. Chegamos a Madrid às 11.00 - uma grande correria até a porta 54S42 pois o tempo para o transbordo era escasso. A FM (Fernanda) esqueceu no avião uma mala da mão. A FR (Fátima) usou de toda a capacidade de argumentação junto do balcão da Ibéria invocando as terríveis doenças da dona da mala e a premente necessidade de reaver os medicamentos. Apanhamos em cima da hora o avião IB6313 para San Jose um Airbus A340-600 com capacidade para 419 passageiros - uma enormidade com uma fuselagem de 75,3 metros, dois corredores e cada fila com 7 lugares. Como companheiros de viagem duas nicas (nicaraguenses) estudantes que regressavam de Madrid, quiçá, ao abrigo de algum protocolo tipo Erasmus. Eu fui revendo no PDA o mapa detalhado da Costa Rica e o meu vizinho da fila de trás achou que, já que também possuía um PDA não podia prescindir do precioso mapa. Um bom argumento para iniciar uma conversa e sabermos um pouco um dos outros - trabalha na Willis em Madrid, deve ter cerca de 25 anos e vai passar 15 dias com a companheira na Costa Rica. Vai alugar um todo terreno, segue para o Arenal, Tortuguero, na costa caribenha e depois Limon. Depois troca a costa Atlântica pela do Pacifico para visitar o parque Nacional Manuel António e depois concluir a estadia em San Jose. As maravilhas da tecnologia permitem enviar uma cópia de dois mapas da Costa Rica para o PDA do José António Sauco em poucos segundos. Perdeu a caneta do PDA e usa os dedos para escrever no ecrã táctil, o que me serve de aviso para não perder a minha.
As horas vão passando... o almoço - pollo, parece melhor do que a colorida paelha da FR. Verifico com surpresa que todos têm talheres de metal inox. A minha faca é a única de plástico. Será que, para as zelosas hospedeiras, eu poderia ser um potencial terrorista e previdentemente tomaram essa inteligente medida de segurança. Isso e bastante tranquilizador e mostra que enquanto andamos distraídos com a excitação da viagem alguém esta a zelar pela nossa segurança. Desde os acontecimentos de 11 de Marco os espanhóis depois dos norte americanos vivem também a paranóia da ameaça terrorista.
A FM esta já mais tranquila relativamente ao incidente da mala e as diligências da FR auguram um final para o caso. Uma menina franzina, com um ar muito vivo e umas feições que denunciam a presença de sangue Maya nas veias, de vez em quando procura chamar a atenção introduzindo os deditos no espaço entre os bancos.
Em San Jose, o ar está limpo com algumas nuvens no horizonte. Ao sair do avião, o ar tropical envolve-nos. O primeiro contacto com os ticos, designação dos costaricences, revela a extrema amabilidade e simpatia que continuaremos a verificar ao longo da nossa permanência. Este funcionário da Ibéria atende-nos com uma gentileza a que estamos pouco habituados. Tomamos o táxi para o centro da cidade. As estradas são boas e o parque automóvel também, mas revela alguma falta de manutenção. Os gases dos escapes estão em todo o lado. O Hotel Nuevo Johnson não corresponde ao anunciado na Net. O Lonely Planet (Guia de viagem) também doura um pouco a pílula. Há indícios de o hotel ter tido, em tempos, momentos mais áureos. Não é um problema para nós. Há muitos hotéis e estamos na época baixa do turismo.
25.09.2006 Segunda-feira
A cidade fervilha de vida. As 6h00 em torno do mercado central centenas de comerciantes descarregam, negoceiam, correm. Os produtos são um autêntico arco-íris - papaia, banana, goiaba, pitaca, carambola, ananás, caju e muitos outros que vamos conhecendo com o tempo.
O sol rompe e promete um dia quente e sem chuva. A FM e a FR ainda repousam e aproveito para passear até ao centro da cidade - Plazza de la Cultura, o belíssimo Teatro Nacional e o Museu do Ouro. Ligo o PDA e detecto a presença da rede Wi-fi do Grande Hotel da Costa Rica e aproveito para ler o correio electrónico e fazer algumas consultas na Net. Sigo pela Avenida Central ate a igreja de N. Sra. de la Merced. Bonita e simples. Confirmo a profunda fé dos costaricenses. Está em execução um "proyeto de restauracion" e há andaimes em todo o interior. Regresso ao hotel e de novo os errantes estão reunidos para a tarefa do pequeno-almoço. Depois fomos conhecer o Teatro Nacional, cuja beleza nos faz recordar vagamente o café Magestic. O café é excelente e a tarte de manga fabulosa. A oferta alimentar, na Costa Rica, e bastante limitada. Os costaricense renderam-se a comida plastificada e aos KFC, McDonald, Pizza Hut e similares que proliferam por todo o lado. E difícil encontrar "rústicos", os restaurantes de comida tradicional. Acabamos por descobrir, La Casona, um restaurante típico, onde comemos pratos de frutas variadas, casados, combinados de carne ou peixe, legumes, frutas e arroz de feijão. Gostamos e acabamos por voltar outras vezes. Durante o passeio nocturno encontramos dois jovens surdos. A FR põe em pratica os conhecimentos da Língua Gestual, que provou mais uma vez desconhecer o que são as barreiras que a comunicação verbal entre línguas diferentes tantas vezes cria. São 22h00, continuamos ate a Plazza da La Cultura, sempre pejada de gente em amena cavaqueira e ficamos surpreendido ao ver mais uma vez um grande grupo de surdos de todos as idades.
FR vai a uma caixa multibanco. Todas são guardadas por seguranças privados fortemente armados. Nunca vimos indícios de violência, mas por alguma razão estes milhares de guardas privados estão por todo o lado. Até em modestos estabelecimentos, as "tiendas", tipo loja dos trezentos. A insegurança começa a sentir-se quando nos afastamos do centro. As zonas periféricas como México, Coca-cola, San Francisco ou Soledad revelam a miséria que o centro camufla. Nessas zonas vemos inúmeros homens, ainda jovens, excluídos pelo crescimento económico que se sente por todo o lado. Será que são vítimas do corredor terrestre da cocaína que vai para os Estados Unidos? Ou ex-guerrilheiros do El Salvados ou Nicarágua que a pacificação tornou repentinamente inúteis. Seja qual for a razão existem e labutam nos caixotes do lixo. Depois há os Maras com outras motivações e mais perigosos, pois actuam em grupos organizados.
26.09.2006 Terça-feira
Como habitualmente levantei-me cedo e às 05h50 tirei a primeira fotografia do sol a romper por trás dos montes Guayabo. Como já conhecia bem o centro da cidade, decidi conhecer melhor a periferia. Os prédios de muitos pisos dão lugar a casinhas térreas com jardim. O betão dá lugar a madeira. As avenidas continuam largas e perpendiculares, o quadriculado e perfeito. Quando se pergunta onde fica o local x, as indicações são precisas: 2 quadras (quarteirões) em frente, 2 à direita e 1 a oeste.
O calor sufoca. Visito outra igreja com vitrais que criam um ambiente agradável no interior. Volto ao hotel à procura de sombra. Criamos o hábito de almoçar no restaurante La Casona. O funcionário já sabe que vamos comer "casado".
Só temos que dizer se é a variante de carne, peixe ou vegetal. Os ingredientes são: feijão preto cozido que vem numa pequena tigela, dentro da travessa. É acompanhado de arroz branco, uma porção de legumes estufados, salada e a inevitável banana frita. Esta versão chama-se "casado campesino". Continuamos sem notícias da mala da FM. A Ibéria de Madrid ainda não respondeu ao fax enviado do seu escritório do aeroporto de San Jose. O recepcionista do hotel, sempre amável, faz varias tentativas de contacto mas na delegação da Ibéria ninguém atende.
27.09.2006 Quarta-feira
Hoje e dia de partida em direcção a La Fortuna. As malas as 9h30 já estão prontas. Fizemos a última incursão pelo centro de San Jose até junto do Grande Hotel da Costa Rica e resolvi tomar o pequeno-almoço na cafetaria Casa Creole no edifício Las Arcadas. O lema da casa é "Alma y corazon del Caribe". O funcionário, delicadíssimo, depois de saber que tenho uma longa viagem pela frente propõe-me um Gallo Pitto que aceito de bom grado. Pedi também chá e torradas. Vamos a pé até à "parada" (paragem) CocaCola, onde vamos apanhar o bus. são 4h30 horas de viagem com uma paragem de 15 minutos em Quesada. Subimos quase duas horas até que a neblina nos envolveu totalmente. O motorista mostra saber o percurso de memória e não abranda a velocidade. A estrada é estreita e cheia de curvas, não se vê um palmo à frente dos olhos e de cada vez que nos cruzamos com outros autocarros ou camiões, sentimos um calafrio. A curta paragem em Quesada sabe bem e é suficiente para comer um "plato de fructas" com goiaba, ananás, tangerina, papaia, maçã e banana. São 300 colones (0,45 euros) e uma ida ao WC outros tantos colones. O vulcão Arenal é imponente e começa a visualizar-se muito antes da chegada ao destino. La Fortuna e um planalto e fica no sopé do vulcão. E uma cidade com cerca de 7000 habitantes, desenhada a régua e esquadro, inteiramente orientada para os turistas - lojas de "recuerdos", artesanato, agências de viagens com "tour", "canopy", "rafting, pontes colgantes, trekking da lava, inúmeros hotéis, cabines, habitaciones e restaurantes. As restantes residências pertencem aos funcionários que dão vida a todas estas actividades. São 17h00, o céu escurece e anuncia a aproximação da noite. Nuvens densas envolvem a cratera e a parte superior do tronco de cone e estendem-se como um manto cinzento-escuro sobre a cidade. A iluminação pública já esta acesa as 17h30 e ajuda-nos a descobrir o alojamento. A primeira impressão é agradável: chama-se Hotel La Fortuna e a proprietária e loira e bonita. Tem Internet grátis e três computadores disponíveis. Hoje é um requisito tão importante como o ar condicionado ou um colchão com qualidade. A loira não tardou a revelar a sua antipatia quando se pediu um tapete antiderrapante para o chuveiro. A cor do cabelo e da pele tinha razão, não era costaricense. Se o fosse teria mostrado um sorriso e o problema teria sido resolvido.
28.09.2006 Quinta-feira
Há incidentes providenciais. A antipatia da loira levou a que nos mudassemos para um hotel de sonho, com belos jardins, piscinas, 'jacuzzi', ar condicionado... e uma limpeza meticulosa. Também tinha Wi-fi grátis o que nos permitiu fazer dezenas de telefonemas internacionais a custo zero com o PDA. Contactamos família, ligamos para a Nicarágua para obter informações de transportes e reservar hotel. Até ligamos para a Hermínia as 2h00 da madrugada (hora de Lisboa). Uma verdadeira maldade!...
Tomamos o pequeno-almoço no Mi Casa, uma simpática casa de chá, com uma esplanada, onde nos deliciamos (principalmente a FR) com pratos de fruta local, antes do café com leite, torradas com manteiga e geleia de goiaba. No dia seguinte já tínhamos uma "amiga". A funcionária do Mi Casa revela-nos as dificuldades de um casal com quatro filhos, os altos custos da educação, pois só os desempregados recebem algum apoio do Estado. Os estudantes na Costa Rica usam uniforme e os livros são caros. Como trabalhadora só no terceiro ano de trabalho passou direito a ter férias, doze dias por ano. Relatou as dificuldades sempre com um sorriso nos lábios e não como um lamento. Esta forma de encarar a vida e que torna os costaricenses tão peculiares, felizes, tranquilos e amáveis. Junto aos Serviços de Saúde encontra-se o InfoCenter Jose, do Sr. José Alpizar que se intitula um Tour Broker, onde procuramos saber as alternativas de transporte para a Nicarágua, via Los Chiles, na zona de Cano Negro. No guia Lonely Planet não são claros nas opções e a nossa experiência mostra que frequentemente as informações estão erradas, desactualizadas ou incompletas. Em Los Chiles fica o posto fronteiriço da Costa Rica onde teríamos de pagar a taxa de saída, atravessar de barco o rio San Juan ate San Carlos e depois tomar o avião para Manágua ou o ferry para Granada, cidade colonial junto ao lago Nicarágua. A viagem de ferry dura 14h, seria atraente no aspecto dos contactos humanos, da beleza da paisagem e do custo. O avião daria uma perspectiva do lago, das centenas de ilhotas, da ilha de Ometepe e dos vários vulcões existentes na zona. Segundo o LP, o preço da viagem $31 e 1h era muito tentador, mas a confirmação do preço, quando ligamos para La Costena, a companhia aérea que explora o voo, era quase o triplo ou seja $76 (59,5 euros). O Sr. Jose convenceu-me a desistir deste trajecto e a voltar a San Jose e tomar o autocarro Expresso da Transnica ate Manágua. E incompreensível para nós que nos tenha sugerido uma solução que não o beneficia como empresário pois se nos aconselhasse o percurso por Los Chiles ia ser ele o nosso taxista... Acho que isto nunca aconteceria em Portugal. Perdeu clientes mas ganhou amigos e uma das camisolas da Selecção Nacional que compramos para oferecer a pessoas "especiais".
29.09.2006 Sexta-feira
Fizemos duas saídas de La Fortuna. Uma nocturna, de táxi, ate ao sopé Este do Vulcão Arenal onde são mais visíveis as descargas de brilhante lava vermelha. O vulcão está muito activo desde 1968 e a lava é expelida às golfadas alternadas com explosões semelhantes a fortes trovões. Neste local fica o hotel Campo Verde que na fase de projecto esteve nos nossos planos de viagem seduzidos pela beleza dos bungalows e proximidade do vulcão, mas, os planos estão em continua mutação, o que dá outro sabor ao acto de viajar. Apesar da noite estar bastante escura e já ser bastante tarde para os hábitos dos costaricences a Margarida (que me fez lembrar a Miss K - sim a do blog), a simpática recepcionista fez questão de nos mostrar as instalações e deu-nos diversas explicações sobre o vulcão, confessou que por vezes tinha pesadelos com o vulcão e que no ano anterior dois turistas atrevidos tinham asfixiado devido aos gases tóxicos emanados. Insistiu em mostrar os bungalows dispersos por uma extensa área verde com relva meticulosamente aparada. No final ofereceu-se para chamar o táxi que nos levou de volta ao Hotel San Bosco, e recusou a nossa pretensão de pagar a chamada telefónica.
No dia seguinte de manhã embrenhamo-nos na floresta. Fomos de táxi até às "Puentes Colgantes del Arenal" (pontes suspensas), 250 hectares de área protegida com um percurso de cerca de 3200 metros, criado de modo a interferir o menos possível com a natureza. É constituído por um trilho e seis pontes suspensas a maior das quais tem 98 metros de comprimento. Comporta variadíssimas espécies de fauna e flora e nos pontos mais altos do percurso as vistas para o vulcão e lago Arenal, são inesquecíveis.
30.09.2006 Sábado
Dia de levantar cedo para prosseguir viagem até à Nicarágua. Mas nem tanto… Os despertadores estavam preparados para as 04h30 mas a ansiedade ou o torpor do sono levou a FM a acordar-nos uma hora mais cedo. A FR resmungou e segundos depois já estava de novo a dormir em velocidade de cruzeiro. Tivemos de voltar a San José para apanhar o expresso até Manágua que custou 20 dólares (15,7 euros). Um total de 590 km e 16 horas de viagem. Nas viagens de longo curso os autocarros estão equipados com tv e dvd e despejam sobre nós continuamente filmes americanos com os habituais banhos de sangue e perseguições policiais constantes. Temos de tentar dormitar embalados por sirenes e tiroteios. Uma paragem de autocarro em San Ramon, outra de 40 minutos em San José para o almoço apressado e depois o expresso directo até Manágua com as paragens para formalidades fronteiriças a primeira em Peñas Blancas ainda na Costa Rica e outra na entrada na Nicarágua em que os zelosos guardas fronteiriços estiveram duas horas a inspeccionar detalhadamente o autocarro. Depois ainda temos de levar toda a bagagem até à mesa dos funcionários da imigração onde se forma uma longa fila. Os nicaraguenses adoram o jogo. Há casinos por todo o lado. Na fronteira a roleta também decide. Cada visitante prime um botão. Se acender a luz vermelha a bagagem é revistada. Fui premiado com a verde e pude finalmente regressar ao autocarro.
Os mochileiros, nossos companheiros de viagem, israelitas e chilenos, saíram todos em Granada e nós também o devíamos ter feito. A viagem, para nós, terminou em Manágua no bairro Martha Quezada. O Lonely Planet é bem claro: "… is not a particular safe place. Robberies around the Ticabus station happen with alarming frequency after dark…". Achamos os preços do hotel da Ticabus elevados e como tínhamos outro reservado desde San José fizemos o percurso a pé com a bagagem até ao hotel, que não era muito distante, por ruas mal iluminadas. Certamente somos loucos. Os seguranças e funcionários da Ticabus tinham dito que era muito perigoso circular a pé na zona.
O hotel Los Felipes (recomendado pelos guias de viagem) não dispõe de água quente e o ar condicionado tem a capacidade de provocar mais dores de cabeça com o ruído de funcionamento do que arrefecer o ar do forno onde vamos dormir. Prescindimos do seu serviço. A energia eléctrica ausentou-se durante toda a noite e a água fez o mesmo. Argumentos para depois de uma renhida batalha verbal abaterem apenas 5 dólares na conta. Choveram desculpas em nome do Governo da Nicarágua pelo racionamento da água e pelos cortes de energia. No dia 5 de Novembro haverá eleições e prometeram eleger outro governo.
01.10.2006 Domingo
Levantámo-nos e vestimo-nos sem tomar banho. Não queríamos mas também não havia água. O jardim do hotel que no momento da chegada não pudemos ver por ser noite afinal tinha alguma graça - uma cobertura em colmo com equipamento de ginásio, tapetes rolantes, pesos, bicicletas e cadeiras de relax. Não tiramos proveito disso pois apenas desejávamos deixar o hotel. Na recepção queixamo-nos das más condições e das informações erradas fornecidas por telefone no momento em que fizemos a reserva.
Apanhamos um táxi para a central de camionagem. Ao sairmos do táxi somos assediados por dezenas de vendedores de viagens que se degladiam para conseguirem um cliente. O chinfrim é imenso. Autocarros e táxis buzinam incessantemente. Escolhemos o mini autocarro pelo aspecto - o menos pior. São quase todos carrinhas de cerca de 9 lugares da marca Hyundai ou Toyota. Nesta zona do mundo parecem ser as marcas oficiais dos meios de transporte.
Uma hora depois estávamos no paraíso. Granada é a mais antiga cidade colonial da América Central, situada junto ao lago Cocibolca que a liga pelo rio San Juan até ao mar do Caribe e fica a menos de 20 km do Oceano Pacífico, a ocidente. Em toda a cidade e em particular nas proximidades do Parque Central abundam as casas, igrejas e edifícios públicos de estilo colonial. Juntamente com Leon que infelizmente não tivemos oportunidade de visitar parecem ser as cidades da Nicarágua mais apreciadas pelos turistas. Granada vai ser a nossa base por dois dias. Descobri o Hotel Nicarao próximo da praça principal onde se situam o Hotel Plaza Cólon, o Hotel Alhambra e a imponente catedral. Sabe bem passear numa cidade calma depois da assustadora Manágua. Há consenso. O hotel Nicarao agrada às minhas compinchas. São 30 cordobas (cerca de 1,34 euros) de diária para cada um. Uma excelente relação preço/qualidade. Tem um pátio interior descoberto com relva e plantas floridas. É cercado por colunas que sustentam um corredor coberto com uma das alas a servir de cozinha e sala para quem desejar preparar as suas refeições. Outra das alas tem cadeiras de balouço, tv e 2 computadores com Internet. O hotel aparentemente está apenas habitado por nós e por um jovem casal, ele com rastas e ela com um corte de cabelo arrojado, que confecciona e vende colares, brincos e pulseiras na praça central.
02.10.2006 Segunda-feira
Não temos ar condicionado mas disponibilizaram três potentes "abanicos" (ventoinhas) para minorar o sofrimento. Não tem agua quente o que é perfeitamente dispensável numa região tão quente. Das 10 às 16 ou 17 horas o calor aperta e a nossa suposição de que a proximidade do imenso lago tornaria a cidade mais fresca não se veio a confirmar. O lago fica a cerca de 1,5 km do hotel, com a avenida marginal e o jardim Malecon cheios de famílias que passeiam e jovens casais de namorados ternamente abraçados. Passam carrinhas de caixa aberta que nos seus pouco mais de 3 metros quadrados albergam famílias inteiras por vezes mais de uma dezena de pessoas. A natalidade é elevadíssima nesta zona do globo e em todo o lado se vêem crianças e jovens. Passam também alguns táxis desocupados que ao reconhecerem que somos turistas primem repetidamente o klaxon para chamarem a atenção. Só aqui muito junto ao lago se sente uma ligeira brisa fresca que não chega a atingir o centro da cidade. O céu repentinamente escurece e pingas grossas começam a cair e caminhamos a passo rápido na avenida paupérrima em direcção ao hotel. Nos passeios há prostitutas, gente humilde e muitas crianças. Estas brincam junto às valetas que funcionam como esgoto a céu aberto.
A Nicarágua é visivelmente mais pobre que a Costa Rica e a diferença deve residir na tranquilidade que esta viveu, enquanto a Nicarágua foi desde 1900 a 1925 ocupada pelos norte-americanos que voltaram em 1927. O general Sandino, o grande herói libertador, encetou a luta contra o invasor, que teve de retirar deixando no seu lugar a Guardia Nacional chefiada por Anastasio Somoza que tomou o poder em 1936 e "legalizou" a situação através de uma farsa eleitoral no ano seguinte com o suporte dos EUA. A dinastia Somoza continuou até que a Frente Sandinista finalmente ocupou o Palácio Nacional de Manágua e libertou imensos presos políticos. Finalmente em 1979 Somoza foi derrotado e exilou-se. O sandinista Daniel Ortega foi a grande esperança mas a corrupção instalou-se e surgiram os opositores, os "contras", que tiveram grande apoio da população desiludida. Em 1984 Ortega ganhou as eleições e começou o "embargo" americano e estalou o escândalo da venda de armas ao Irão cujo dinheiro se destinava a financiar os "contras". Em 1990 Violeta Chamorro, conservadora trouxe a paz ao país. Em 1996, Alemán da direita ganhou as eleições e os sandinistas ficaram em segundo lugar tendo perdido muito do prestígio anterior. Há eleições em 5 de Novembro próximo e as sondagens de La Prensa de 23.10.2006 dão o 1º lugar a Ortega com 29% e o 2º a Montealegre com 23%.
No nosso hotel recomendaram-nos o restaurante Café Blue, pintado dentro e fora a azul-cobalto. Comemos o que já se tornou uma regra - o plato de fructos - com ananás, papaia, manga, meloa, maçã e melancia. Estava bom mas decidimos comer o prato principal num restaurante menos "americanizado". A cerca de 200 metros lá estava ele com bastantes clientes o que nos fez crer que o serviço seria bom.
Sentei-me na mesa de um grupo de jovens e tentei saber porque o meu telemóvel não obtinha rede. Disseram-me que o sistema era diferente do da Costa Rica que é idêntico ao português. Num país tão colonizado pelos gringos só podiam ter um sistema americano. Ia ficar sem telemóvel até chegar a Belize.
O restaurante foi uma escolha acertada. Fomos até a praça Central tomar o café no Hotel Plaza Colon que se gaba de servir o melhor café da Nicarágua.
Já são 17 horas (meia-noite em Portugal) e já só posso telefonar para os noctívagos. Jantamos numa esplanada frente a La Casa de Los Três Mundos. Em termos gastronómicos a FR e a FM estavam muito comedidas e eu aventurei-me a provar peixe do lago, o guapote. Depois fomos até ao cybercafé fazer o "baptismo cibernético" da FM. Criar uma caixa de email e escrever as primeiras mensagens. Passou a ser oficialmente a "nanamourisca". Depois passamos à tarefa mais árdua. Passar este diário manuscrito para o computador. Eu ditava, a FR escrevia. Assim transcrevemos as primeiras dezasseis páginas a correr. O tempo escasseia. Temos de dormir e o cybercafé tem de encerrar.
03.10.2006 Terça-feira
Estamos com curiosidade de conhecer a ilha de Ometepe, nome que significa "entre duas colinas" no dialecto local. As duas colinas são os vulcões Maderas e Concepcion que se elevam respectivamente a 1394 e 1610 metros. O Lago Nicarágua ou Cocibolca com 8624 quilómetros quadrados. Os nicaraguenses chamam-lhe o "Mar Dulce" porque se perde no horizonte e tem ondas como o mar. A ilha de Ometepe é a maior ilha lacustre do mundo. O Sr. Mário gerente do Hotel Nicarao onde estamos instalados, cujo ar aparenta mais de "gringo" do que "nica" deu-nos todas as indicações de que necessitamos sobre o transporte e alojamento na ilha. Chamamos o táxi e 5 minutos depois estamos na doca junto ao Malecon onde vamos tomar o ferry. Apesar de tanto o lago como a ilha serem território da Nicarágua estranhamente há formalidades burocráticas como se estivéssemos a transpor a fronteira em direcção a outro país. Tomam nota de todos os nossos dados, observam atentamente os passaportes e pedem aleatoriamente para abrir as malas. A FM teve de mostrar o conteúdo. O Ferry tinha como destino S. Carlos a 12 horas de viagem mas, felizmente, o nosso destino é Altagracia, apenas a 4 horas de Granada. Exteriormente o barco parece muito pequeno mas quando entramos no deck verificamos que comporta muitas centenas de pessoas e muitas toneladas de carga. Tudo o que é consumido nas cidades da ilha é transportado nestes barcos. Não existe nenhuma bóia à vista nem botes salva-vidas. Percebi agora claramente as tragédias com barcos de passageiros que frequentemente ocorrem nestes países. Fiquei no deck interior na primeira fila frente ao bar. Uma senhora com os seus cerca de 200 Kg sentou-se junto a mim e alguns minutos depois encostou uma travesseira à minha perna e refastelou-se ao longo do banco e rapidamente adormeceu como se estivesse em casa. O barco arrancou e o frenesi em direcção ao bar começou. Toda a gente come e bebe. As crianças chupam bebidas de cores berrantes de sacos de plástico transparentes e abrem constantemente pacotes de guloseimas. Os adultos comem comida fumegante de faca e garfo. O ar enche-se de odores que vão mudando. O vento levanta-se e as escotilhas tem de ser fechadas pois as ondas insistem em entrar. Como se trata de água doce fico menos preocupado quando uma golfada de água atinge a minha mala. Somos acompanhados por algumas dezenas de estrangeiros - americanos, canadianos, espanhóis, belgas, franceses - que vamos mais tarde voltar a encontrar nas nossas incursões pelos diversos pontos da ilha. Conversamos com eles e apesar de estarem todos em amena cavaqueira soubemos que no dia anterior ainda não se conheciam. Este é o verdadeiro espírito "viajante". São conhecimentos que se cruzam por momentos outras vezes por horas ou alguns dias. Por vezes trocam-se os endereços de e-mail e recomendam-se sítios imperdíveis para visitar ou hotéis que agradaram. É a solidariedade do "viajante".
Chegamos já de noite ao porto que serve Altagracia. Partilhamos um táxi com outros turistas e com indígenas. Ficamos no Hotel El Castillo do Sr. Júlio César Castillo. É agradável e apresenta uma limpeza acima da média. Estão vários turistas instalados neste hotel entre os quais um americano que trabalha como voluntário na organização "Si a la vida" (http://www.asalv.org/). Deve ter perto de 70 anos e colabora na recuperação de um edifício da organização, chamado Casa José Maria, por profissionalmente ter estado ligado à arquitectura. Retiram jovens da rua muitos dos quais "snifadores" de cola ou pertencentes a "gangs", desligados da família e da escola. A organização centra a sua meritória actividade em Manágua e em Ometepe. Lia "Atonement" do Ian McEwan e eu disse-lhe que desse autor já tinha lido "O jardim de cimento" que felizmente era a tradução literal do titulo original. Por vezes as traduções livres dos títulos de livros ou filmes dificultam quando se quer referir uma obra a um estrangeiro mas não foi o caso. O livro tinha sido deixado por outro viajante na biblioteca do Hotel. É frequente encontrar livros, guias de viagem e até dicionários nos hotéis por onde passamos. Quase sempre são em língua inglesa, alemão ou espanhol. Nunca encontrei nenhum em português.
Jantamos no hotel e fizemos um passeio apeado nos quarteirões próximos.
04.10.2006 Quarta-feira
Apanhamos um autocarro que percorreu cerca de 3 km em estrada alcatroada e depois tomou uma estrada secundária junto ao lago em direcção à praia de Santo Domingo. A paisagem é agradável, à direita plantações de banana, à esquerda o lago com as ondas suaves e o areal cinzento escuro revelador da sua origem vulcânica. A estrada afinal é um caminho de cabras e o ex-School Bus americano depois de se reformar nos Estados Unidos veio terminar os seus dias da pior forma nesta "carretera" pedregosa e esburacada. Todas as estradas da ilha e mesmo a maioria das ruas das povoações estão em mau estado e são de terra batida. Com a frequência com que chove é fácil adivinhar o seu estado.
Deixamos o autocarro frente ao Hotel Finca (Quinta) San Domingo. Passeamos um pouco ao longo da praia tomando algumas fotografias. O Hotel é uma quinta recuperada e adaptada com muito bom gosto. O restaurante dispõe de várias salas mas escolhemos um deck sobre a praia totalmente construído em madeira e cercado de árvores e plantas floridas. Pouco depois apareceu a Karen Rose, artista plástica, canadiana que trabalha em restauros. Apresentou-nos o marido Darryl e contou as suas desgraças durante a sua passagem pelo Panamá. Com um cigarro numa mão e a cerveja na outra explicou que lhes roubaram os cartões de crédito e que o marido mergulhou no Atlântico com a máquina fotográfica digital na bolsa da cintura. Estava feliz porque as fotos do cartão de memória não se tinham perdido apesar da máquina ter ficado completamente inutilizada.
Almoçamos bem. A FR e a FM comeram peixe do lago. Tivemos companhia. Primeiro um grupo de rapazes e raparigas alemães, acompanhados por 2 ou 3 professores, que antes do almoço foram dar um mergulho no lago. Depois vieram os gaios-rabudos (Calocitta formosa), muito elegantes com plumagem cinzento azulada, um penacho na cabeça e um colar no peito, muito atrevidos pois aproximavam-se a poucos centímetros das pessoas e chegavam a aventurar-se até às mesas para petiscar.
05.10.2006 Quinta-feira
A FM continuou a dormir tranquilamente. Eu e a FR levantamo-nos às 3h15 e o nosso guia já nos esperava pronto para partirmos em direcção ao autocarro que nos levaria até Balque onde prosseguimos a pé até à Finca Magdalena, antiga quinta de produção de café antes de se transformar em hotel e agencia de viagens. Recomendou que cada um levasse 3 litros de água pois a subida ao vulcão Maderas iria fazer-nos suar durante muitas horas seguidas. O prémio era atingir o lago situado na cratera adormecida no topo do vulcão. Tinham-se esquecido de nos dar uma informação preciosa… O grau de dificuldade da subida deve estar nos dez numa escala de dificuldade de zero a dez. O vulcão vai até aos 1395 metros e a distancia a percorrer passa pouco dos 5 km (segundo o nosso guia). O percurso inicial não prenuncia as dificuldades que vamos encontrar. Ao longe ouvimos os gritos dos clãs de monos (macacos) de cara branca. O guia parece um bom conhecedor da fauna e vai dando informações sobre a utilização medicinal de diversas plantas e convida-nos a provar frutos estranhos usados pelos índios nas fugas ao invasor espanhol. Mais adiante aparecem os primeiros Petroglifos (monólitos vulcânicos com inscrições mayas). O trilho é um misto de carreiro, sulco por onde escorre a água das chuvas, calhaus, pedregulhos vulcânicos, argila pastosa e escorregadia, lama onde o nosso calçado se atola, desaparece e se desfaz. A inclinação é grande. Passamos o tempo a escorregar e a cair. O guia também cai. A FR pergunta sistematicamente ao guia quanto falta para chegar ao destino e apesar de estarmos a subir à mais de uma hora só avançamos pouco mais de 500 metros. O desânimo de vez em quando invade-nos. Temos consciência de que a descida será ainda mais custosa. Não chove mas estamos completamente encharcados. É apenas suor. Bebemos água para tentar diminuir o peso da mochila. No segundo quilómetro a FR queixa-se que sente fome. Come uma das duas sanduíches que levamos. Minutos depois confessa que o suplemento alimentar não lhe forneceu a energia esperada. O guia, Nactalin, estudante de nutricionismo explica que comer durante a subida tem o efeito paradoxal de retirar energia ao escalador. Imagino que seja a afluência de sangue à zona do estômago que se desvia do seu percurso natural e onde seria mais necessário ao longo do sistema vascular dos músculos das pernas e braços. Cada dez metros parecem cem e cada cem parecem mil. Começo a sentir a consciência pesada por insistir com a FR para que não desista. Em vão. No quarto quilómetro resolve parar. Por solidariedade eu também devia desistir. A FR faz questão de que eu continue. É também o que me apetece. Pelo desafio. Por estar terrivelmente cansado e por ter esta tarefa em mente já à alguns meses. O guia diz que não há perigo algum. Que pode ficar tranquila naquele lugar. Há jaguares, boas e monos mas todos evitam os humanos. Já passaram cinco horas. Nactalin diz que falta só uma hora para atingir o objectivo. A FR fica sentada numa rocha e continuamos. A humidade ambiente é tanta que caem pingas que escorrem das folhas das árvores como se estivesse a chover. O algodão da camisola já esgotou à varias horas a capacidade de absorção. Fazemos uma pequena paragem, divido a única sanduíche com o guia quando me apercebo que ele não trouxe qualquer alimento sólido. Os sons das aves ce os guinchos graves dos macacos afirmando o seu poder já deixaram de se ouvir à muito. Sinto que cheguei ao limite e luto para não desistir. Finalmente chegamos a um ponto onde um precipício se depara à nossa frente e lá no fundo o nevoeiro esconde a paisagem. É o bordo da cratera e o precipício é o caminho que conduz ao lago localizado na cratera. As botas que comprei no dia anterior por 25 dólares expressamente para esta jornada radical estão a desfazer-se. Eu sabia que não podia esperar muito delas mas tinham por missão substituir as botas de trekking da Coronel Tapioca cujas solas se começaram a desagregar no parque das Puentes Colgantes e tiveram como destino o lixo. As palmilhas espreitam e parecem querer sair de dentro das botas. Começamos a descer cuidadosamente apoiados nas lianas que abraçam as árvores. Falando de desistências e abandono na subida ao vulcão o guia diz que quem desiste mais frequentemente são os jovens entre os 15 e os 18 ou 19 anos e que amiúde choram copiosamente. Já se começam a ouvir vozes de outros escaladores que seguiram o trilho da encosta oposta. São três rapazes e uma rapariga, alemães, irlandeses e um israelita. Junta-se um português ao grupo e pede para lhes tirar uma fotografia. O meu guia conversa com o guia do outro grupo. Os irlandeses despem-se e saltam para o lago que é pouco profundo e lamacento. Parecem não apreciar muito a experiência pois poucos minutos depois já estão cá fora. A FR ficou sozinha e peço ao guia para regressarmos rapidamente. Ele diz que o momento deve ser registado e tira-me duas ou três fotografias. Este pequeno momento de relax não foi suficiente para retemperar as forças. Já bebi os 3 litros de água. Penso que devia ter trazido um chocolate. Acho que era exactamente o que me apetecia no momento. Tenho a certeza. Mas não vale a pena pensar nisso. O que é necessário é regressar. Percorrer o mesmo trajecto é muito custoso. A chuva que caiu entretanto tornou a descida ainda mais insuportável. Reencontramos a FR quase duas horas depois. Sempre impaciente, e tal como eu receava, não se manteve no local combinado. Resolveu ir descendo o que é absolutamente desaconselhado. Dei comigo a pensar quanto estaria disposto a pagar para num "flash" passar da encosta do vulcão para o quarto do hotel. Nessa altura conclui que 300 euros era um preço justo e que não me custaria nada pagá-lo. A noite abateu-se sobre nós, que continuamos os últimos 100 metros do percurso rodeados de pirilampos indiferentes ao nosso sofrimento. Chegamos à Finca com noite cerrada guiados pela lanterna. A FR chegou ao varandim onde funciona o restaurante e prostrou-se no chão. Pediu um táxi e uma hora depois estávamos no hotel. A FR foi amparada até ao quarto. As minhas botas, meias e cuecas foram para o lixo. Tomei banho e fui jantar com a FM ao Hotel Central que fica nas proximidades. Curiosamente já não me sinto cansado apesar de sentir todos os músculos das pernas doridos. Encontramos no hotel a Karen que tínhamos conhecido no dia anterior em San Domingo e que nos contou as últimas desgraças de que tinham sido vítimas. Tinham passado o dia na praia e enquanto nadavam roubaram-lhes os relógios, dinheiro, máquina fotográfica, passaportes, etc. O dono do Hotel mostrava preocupação pelo abalo que isso podia provocar no turismo da zona e tentava convencê-la de que iam reaver os objectos roubados.
06.10.2006 Sexta-feira
Pela manhã saímos de Altagracia no bus em direcção a Moyogalpa onde tomamos o ferry em direcção a San Jorge. Fomos de táxi até ao terminal de autocarros onde apanhamos um minibus para Granada. Uma hora de viagem. Na estrada há buracos e miúdos tapam-nos com pás e terra. Em troca de algumas moedas que o condutor lhes atira pela janela. Ficamos no Hotel Nicarao onde estivemos já na semana anterior. Fomos recebidos como velhos clientes e ficamos no mesmo quarto. Almocei no restaurante de um gringo, já bastante idoso, mas sempre atento, verificando se os clientes estão a ser bem atendidos. É a Kathy's Waffle House situada em frente do Convento de S. Francisco, especializado em pequenos almoços ao estilo "yankee" - pancakes, waffles, omeletes, oatmeal mas também pratos de frutas e outras especialidades locais. Fomos ao banco Bancafé e levantamos alguns dólares para as despesas dos dias seguintes. A FR ainda estava em "ressaca vulcânica" e não estava em condições de nos acompanhar até aos escritórios da King's Quality, que como o nome sugere oferece transportes rápidos expresso internacionais. O sol estava tórrido e as sombras escasseavam. Caminhamos muito mais do que supúnhamos necessário - 11 quarteirões. Cada bilhete de Manágua a Guatemala City custou 52 dólares (40,75 euros). Regressamos de táxi e combinamos com o gerente do hotel permanecer no hotel até à hora da chegada do táxi que nos levaria a Manágua em troca de um pequeno pagamento. O condutor tinha dificuldades de compreensão e resolveu trazer o filho para fazer de intérprete. Como bom nicaraguense conduzia pessimamente.
07.10.2006 Sábado
Finalmente chegamos à sede da King's Quality em Manágua. Dispunha de uma sala de espera confortável e café grátis. Partimos às 2h30. O autocarro era cómodo, com assentos reclináveis e ar condicionado. A maioria dos passageiros eram nicas de uma qualquer seita religiosa, quase todos familiares que se deslocavam à cidade de Guatemala para a investidura de um pastor evangélico. Havia também um casal de turistas. Paramos várias vezes para as formalidades alfandegárias e pagamento das taxas de entrada e saída pois nesta viagem percorremos 4 países: Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala. Uma das paragens foi muito demorada. Os guardas alfandegários de El Salvador resolveram revistar pormenorizadamente o autocarro durante mais de uma hora, enquanto os passageiros esperavam no exterior. Parece que não encontraram o que pretendiam e e finalmente deixaram-nos prosseguir a viagem. Mais adiante novas formalidades burocráticas que por estes lados parecem cultivar, preenchimento de impressos, pagamento de taxas, saltar de guichet para guichet, e sobretudo esperar. Finalmente chegamos a Guatemala, capital, fomos a pé até ao hotel Ajau. O hotel ficava próximo do centro histórico, talvez a única zona com algum interesse nesta cidade. Jantamos num restaurante perto do hotel decorado com vários quadros muito expressivos e representativos do quotidiano do povo Guatemalteco, assinados por um pintor de nome Tomas.
08.10.2006 Domingo
Senti algum frio durante a noite e tive de vestir uma camisola extra porque a cidade de Guatemala (Guate para os locais) fica a 1500 metros de altitude em plena Sierra Madre. Tem cerca de 2 milhões de habitantes e nasceu em 1776 para substituir a Antigua Guatemala destruída por um terramoto em 1773.
O povo Guatemalteco e em particular as etnias Maya tem sofrido imenso desde a conquista espanhola. Talvez agora algo esteja em vias de mudar.
Em Maio 1982, a Conferência de bispos Católicos acusou Ríos Montt da responsabilidade de cultivar a militarização do país e continuar os massacres de civis usando meios militares. Em Dezembro de 2005 foi tornado público que os originais dos arquivos da Polícia Nacional mostram que os assassinatos e as desaparições foram ordenadas pelo comando supremo da Polícia dos esquerdistas durante a guerra civil. Entretanto o Tribunal Constitucional Espanhol determinou que os tribunais espanhóis podem ouvir queixas e julgar crimes contra a humanidade, mesmo que os crimes tenham ocorrido fora de Espanha e mesmo que nenhum cidadão espanhol esteja envolvido. Em Junho de 2006 o juiz Santiago Pedraz viajou até Guatemala para investigar a queixa de genocídio apresentada à justiça de Espanha por Rigoberta Menchú Tum e pelas organizações guatemaltecas dos direitos humanos em 1999. Em 7 de Julho, depois que seu regresso a Espanha, Pedraz acusa Ríos Montt, Oscar Humberto Mejía Víctores e seis outros de genocídio, tortura e terrorismo e emite mandatos internacionais com vista à sua prisão. Ríos Montt não foi o único déspota brutal a governar a Guatemala e metade dos 200.000 mortos estimados foi assassinada antes e depois do seu reinado breve, mas foi o mais mau, o mais tenebroso e sem coração, apesar de ser um "fervoroso" cristão.
Dei uma volta pela zona histórica e fui também à Praça Central onde ficam o Palácio Nacional e a Catedral. No centro da praça, talvez por ser domingo, funcionava uma feira de artesanato com tecidos e mantas de cores garridas e outros produtos da região. A cidade é muito poluída em parte devido aos imensos velhos autocarros que largam nuvens negras de fumo. São 7h30 e o ar já está insuportavelmente irrespirável. Afasto-me do centro e encontro casualmente a FR e FM que procuravam um restaurante. Almoçamos e tomamos um táxi até ao terminal dos "Chicken Bus" (autocarros das galinhas) que nos ia levar a Antigua. Tínhamos ouvido muitas referencias positivas a esta cidade quer nos guias de viagem quer nos relatos de outros viajantes. Todos eram unânimes em considerá-la uma etapa obrigatória. Estávamos ansiosos por chegar. O condutor do autocarro, doido varrido, parece ter lido os nossos pensamentos e percebido a nossa pressa e como não avançávamos devido à longa fila provocada pelas obras na estrada num dos sentidos que fazia com estivéssemos a demorar muitos minutos para avançar alguns metros resolveu passar para a faixa de sentido contrário e avançar em contra mão em grande velocidade. Ficamos todos apavorados pois os veículos vinham em grande velocidade em direcção a nós e só se desviavam no último momento. Quem partilhou connosco esta aventura foi o Gerardo Casado, (http://yesascraist.spaces.live.com/) argentino, arquitecto, surfista que se encontra em viagem já faz 6 meses. Explicou que no seu país também se conduz mal mas nem tanto. Como me encontrava no assento da frente mesmo atrás do condutor, estava em risco de vida eminente. O alucinado resolveu voltar de novo à faixa que se encontrava em obras, enquanto o assistente de bordo ia à frente retirando os pedregulhos que tinham sido colocados para que não fosse usada. Graças a esta loucura demoramos "apenas" 3 horas a chegar a Antigua. Gerardo foi connosco em busca de alojamento e tinha a intenção de ficar numa pousada para backpackers" (mochileiros). Nós também percorremos a zona e ficamos no "El viajero" cuja dona é uma apaixonada por animais em geral e gatos em particular. Recolhe os abandonados recupera-os e depois arranja famílias de acolhimento. O hotel não é dos melhores mas é frequentado por turistas jovens que dão muita vida à "casa". A FR negociou o preço que ficou nos 90 quetzals (9,41 euros) pelos três. Não tinha banho privativo mas havia uma segunda WC para as horas de ponta. Tinha a imprescindível água quente numa cidade em que a temperatura à noite desce bastante. Gerard não ficou no hotel previsto porque tinha pouco espaço para as suas 3 pranchas e porque preferia um hotel frequentado por ingleses ou americanos pois precisava de melhorar o seu inglês. Escolheu o Black Cat que correspondia as suas pretensões.
Antigua é uma relíquia da arquitectura colonial e os antuiguenhos estão a tirar proveito das características e clima da cidade, mas é perceptível algum neocolonialismo já que os locais mais bonitos, restaurados ou com os melhores serviços de restauração são invariavelmente explorados por ingleses, americanos ou dinamarqueses. São exemplos disso os restaurantes Wienner ou Travel Trip dirigidos por austríacos e ligados a um clube de apaixonados pelo xadrez. Na primeira noite jantamos com o Gerardo no primeiro destes restaurantes. Tinha uma onda marcadamente gótica, com a única janela decorada com três castiçais com a cera escorrida de muitas centenas de velas. Comemos num ambiente de semiobscuridade já que a iluminação da sala era a de uma vela colocada em cada mesa. O jantar custou a cada um cerca de 10 dólares (7,8 euros). Em Portugal custaria aproximadamente o dobro.
09.10.2006 Segunda-Feira
Levantei-me como habitualmente muito cedo para visitar o mercado da cidade que é sempre o local com mais vida em qualquer cidade a essa hora. Encontram-se à venda muitos produtos artesanais misturados com outros criados a pensar nos turistas. Antigua tem outro mercado, com uma grande área e muitas dezenas de lojas, exclusivamente dedicado ao artesanato mas a essa hora ainda não estava aberto. Voltei ao hotel para tomar o "desayuno" com as colegas e visita alguns locais de interesse. La Condesa alojada na Casa del Conde defronte da Plaza Mayor é uma confeitaria com uma arquitectura lindíssima com 2 pátios com chafariz, belíssimas flores, de um excelente bom gosto. Sentamo-nos para tomar o pequeno almoço. Dispõe de um menu completíssimo com doces e bolos deliciosos. No mesmo espaço funcionam também uma livraria, uma loja de artesanato e outra de papéis exóticos. É um bom exemplo do aproveitamento comercial de um edifício colonial.
Na hora do almoço tivemos um pequeno desencontro. Fiz várias vezes o percurso entre o hotel e o Parque Central na esperança de encontrar as colegas de viagem. Mas em vão. Resolvi esperar no hotel, já um pouco preocupado, porque as horas passavam e elas não apareciam. Não foi possível comunicar por telemóvel. Finalmente e já de noite chegam. Tinham passado a tarde no Hospital e tido tratamento Vip. A FR tinha ferido a pálpebra junto da sobrancelha nas muitas janelas das casas coloniais que sobressaem para o exterior e se prolongam sobre os passeios da cidade. Acidente muito frequente, segundo os médicos do Hospital. Para a FR a grande qualidade do serviço médico prestado pelo Hospital de Antígua foi uma verdadeira surpresa.
10.10.2006 Terça-feira
Comecei o dia juntando-me ao grupo que esperava junto das instalações do Ingat (Serviços de turismo da Guatemala) para subir ao Cerro de la Cruz, uma colina situada nas proximidades. Saímos acompanhados pela polícia do turismo pois as autoridades recomendam que não se faça esse percurso de forma isolada. A subida era íngreme e uma turista comentou em inglês com um - "Oh! Another vulcano". Depois de cerca de 50 minutos de subida lá chegamos ao local onde se situa o miradouro e a cruz que dá o nome ao local. Como a cidade é plana e os edifícios raramente ultrapassam o rés-do-chão ou o 1º andar a perspectiva da cidade vista daquele ponto é interessante, com os monumentos, palácios e igrejas destacando-se em altura, permitindo identificá-los um a um.
A meio da tarde abateu-se sobre a cidade a habitual chuva que só termina quase ao anoitecer. Passei por um dos muitos quiosques de Internet e aproveitei para passar para um CD as cerca de 700 fotografias tiradas até agora. Paguei 25 quetzal pelo serviço.
Visitei parcialmente, por falta de tempo, a Casa Santo Domingo, ex-convento transformado em Hotel de cinco estrelas, onde ficou alojado o Bill Clinton, quando foi a Guatemala pedir desculpa pelo apoio dado, no passado recente, pelos sucessivos governos americanos aos ditadores deste país.
Por volta das 19 horas apareceu o Gerardo para jantar connosco e sugeri o Wienner que tinha descoberto no dia anterior durante as minhas deambulações. A FR tinha ficado deliciada com a "hochata" que segundo a descrição perfeita de um amigo meu é um pudim de arroz líquido. É confeccionada com arroz, açúcar e canela. É uma bebida oriunda do México, também muito popular na Guatemala. Eu provei, gostei mas pareceu-me mais adequada para sobremesa do que para acompanhar um prato de carne ou peixe. Despedimo-nos do Gerardo com um abraço forte como se fosse um amigo de longa data. Como sempre trocamos o endereço de e-mail e oferecemos a nossa casa.
11.10.2006 Quarta-feira
Levantamo-nos às 6h45 (nunca em toda a vida de trabalho tive um emprego em que tivesse de me levantar sempre tão cedo!) para tomar o "shuttle" para Panajachel. Na frente junto ao motorista vinha o Sr. Miguel de 67 anos, de Valência, que conhece bem Lisboa pois visita regularmente a filha médica no Hospital de Santa Maria e que reside em Oeiras. Entabulou conversa com a FR e falaram sobre globalização, religião, economia, guerra civil espanhola e hispanização da América. Miguel revelou os traumas da sua passagem pelos colégios Jesuítas e o desprezo que sente pela religião católica.
Panajachel para mim foi uma profunda desilusão. Lixo por todo o lado. Barracos desconchavados de venda de pseudo-artesanato. Alguns turistas, alguns residentes gringos, ex-hippies ainda de cabelos compridos, mas grisalhos, com colares com o símbolo da paz e folhas de marijuana. Ruas sujas com esgotos à superfície. O lago Atitlan parecia envergonhado e escondia-se atrás da neblina. Os vulcões Toliman, San Pedro e Atitlan também. Felizmente o tempo de permanência na cidade foi curto. Choveu algum tempo o que fez com que a cascata à saída de Panajachel em direcção a Antígua mostrasse todo o seu esplendor e compensasse a visita. Paramos para tomar algumas fotografias. A vista e o fragor da cascata eram impressionantes.
12.10.2006 Quinta-feira
Desta vez o levantar cedo valeu a pena. Fomos a Chichicastenango. Num hotel um pouco a frente do nosso entrou um turista francês. Depois entraram mais 3 ou 4 e o shuttle seguiu ate um restaurante no percurso onde se para habitualmente para tomar o pequeno almoço. Ao contrário do dia anterior estava apinhado de gente, carrinhas luxuosas com vidros fumados, operadores de câmara de tv e principalmente polícias e militares fortemente armados. Não tínhamos hipótese de ser atendidos. O presidente ia tomar ali o pequeno almoço. Arrancamos e fomos tomá-lo noutro local. Aí conhecemos o Carlos e a Mónica, colombianos que vão fazer compras a Chichi.
Ao ouvir falar português o turista francês, Cristophe, bancário, que trabalha muitas horas extraordinárias para poder usufruir de 3 ou 4 meses de férias por ano apresentou-se. Tem percorrido meio mundo e viveu alguns anos no Brasil onde aprendeu o Português. Fala de tudo com imenso entusiasmo e conversa com toda a gente. Acompanhou-nos durante a visita ao mercado de Chichicastenango, comprou uma cobertura feita em tear artesanal com cores muito intensas e obteve um desconto substancial devido a intervenção da FR. Depois fomos visitar a igreja. Os indígenas souberam unir os ritos religiosos maias tradicionais com o cristianismo. Esses rituais tem lugar na igreja de Santo Tomás e o santuário de Pascual Abaj, levantado em honra ao deus maia da terra. Há também procissões em que oferecem incenso, bebida e comida aos antepassados com o fim de assegurar a fertilidade da terra. Foi na igreja de Santo Tomás que foi encontrado o célebre manuscrito do "Popol Vuh" que é uma espécie de Bíblia ou livro sagrado dos Maya-Quiché (ver http://es.wikipedia.org/wiki/Popol_Vuh). A escada de acesso à igreja está construída sobre um antigo lugar de culto Maia, e ainda hoje os sacerdotes realizam sobre ela alguns de seus ritos de purificação.
13.10.2006 Sexta-feira
Pediam-nos $85 pelo bilhete de avião até Flores, incluindo o shuttle até ao aeroporto de Manágua. Fomos a várias agências de viagem até que conseguimos os $80 (63 euros).
Cada dia que passa levantamos mais cedo. Hoje foi às 03h20. As deslocações de avião são rápidas mas obrigam-nos sempre a longas esperas nos aeroportos, por vezes, mais tempo que a duração da própria viagem o que é bastante incompreensível. O avião era um bimotor a turbo hélice Saab 340 da TAG e todos os passageiros eram turistas. 45 minutos depois aterramos no aeroporto Mundo Maya em Santa Helena. Fomos de táxi até ao centro de Santa Helena. Mais uma vez enganados pelos guias de viagem fomos parar ao hotel Continental.
Deixamos o elemento mais inválido, a FR, com o seu pé inchado a tomar conta da bagagem e fomos a pé até Flores. Não é longe basta atravessar uma ponte. Flores é uma pequena ilha no lago Petén com imensos hotéis e com muito mais graça que Santa Helena mas infelizmente sem uma única caixa Atm. Encontramos um hotel simpático com um quarto voltado para o lago, sem ar condicionado mas com ventilador no tecto.
O clima nesta época é muito quente e húmido. Estava um sol abrasador mas era necessário ir buscar a FR a Santa Helena e fui a pé. No regresso viemos de mototaxi ou rickshaw como é chamado na Índia. Conseguimos colocar na parte de trás as três malas e chegar a Flores. Duas horas mais tarde, e depois de alguma confusão em que tivemos de obrigar o agente de viagens a devolver-nos o dinheiro do shuttle por não ter cumprido o horário, estávamos finalmente a caminho do National Tikal Park numa carrinha de doze lugares repleta de turistas, sem ar condicionado, sem amortecedores e com quase todas as janelas fechadas porque estavam avariadas. No regresso choveu torrencialmente fora e dentro da carrinha. As americanas que seguiam a minha frente tiveram que usar as capas da chuva…
O parque contém talvez o melhor conjunto de ruínas de construções Maya precolombiana. Os grupos de monumentos estão distanciados uns dos outros e por vezes é preciso caminhar entre 20 a 25 minutos entre eles. Nestes percursos vemos e ouvimos toda a rica fauna da selva desde as formigas que se deslocam a grande velocidade, vermes com 8 cm de comprimento, iguanas, macacos, tucanos, quetzales, picapaus etc… Subi ao topo do monumento V, tarefa que demorou mais de 15 minutos devido à sua grande altura. É uma tarefa compensada pela vista fabulosa sobre as copas das altas árvores da floresta. Aqui e ali, o topo de alguns monumentos assoma ligeiramente acima deste mar de folhagem de um verde intenso. O silêncio é total. Estou na companhia de dois americanos a contemplar do alto este espectáculo maravilhoso. Inevitavelmente pedem-me para os fotografar com este fundo fascinante. Retribuem fotografando-me também no topo da escadaria de acesso.
Os mosquitos nas zonas mais pantanosas e húmidas do parque são terríveis, não dão um segundo de descanso.
Gravei os sons da floresta numa zona onde havia muitas aves e noutro local onde encontrei um grupo grande de macacos de cara branca com a função de gravação áudio do PDA. Muito tempo depois num local silencioso resolvi reproduzir a gravação e curiosamente os macacos apareceram nas árvores próximas.
São horas de regressar ao ponto de encontro com a FR e FM para tomar o shuttle que nos levará ao hotel.
14.10.2006 Sábado
Na noite anterior tínhamos negociado numa agência de viagens a deslocação até Belize City. Não queríamos autocarros velhos nem os pequenos shuttle. Estávamos dispostos a pagar um pouco mais por um autopullman confortável e com ar condicionado pois sabíamos que a estrada em território guatemalteco estava em mau estado. O preço de cada bilhete ficou por $20 (16 euros). Entramos no autocarro e a desilusão foi grande. Não correspondia ao prometido. Pelo menos os assentos eram confortáveis e reclináveis. Aproveitei para dormir durante algum tempo. A estrada nos últimos 50 km até à fronteira com Belize estava toda esburacada e poeirenta o que confirmou o que me tinha sido dito em Tikal. Em tempos as relações entre os dois países foram tensas por disputas territoriais e a falta de manutenção desta estrada por parte da Guatemala deve estar relacionada com esta questão. Curiosamente passamos por vários quartéis e veículos militares, o que reforça esta suposição. Passada a fronteira a estrada passou subitamente a alcatroada e o tipo de construção das habitações indica-nos que estamos noutro país. Os painéis publicitários passaram a expressar-se quase só em inglês. O comércio nesta zona está completamente tomado pelos chineses. Nomes como Huei, Wan e Chen estão por todo o lado. Depois de passarmos San Ignacio a temperatura continua a subir e a camisa cola-se ao corpo e ao assento do autocarro. Passamos ao largo de Belmopan, a capital, cidade sem qualquer interesse. Por volta das 11h45 chegamos a Belize City e aproveitamos para ir a uma caixa Atm, almoçar e obter informações sobre os ferry's para Cayo Caulker. Verificamos que é o Cayo preferido pela maioria dos turistas. A lancha encheu-se de mochilas e de pessoas de diferentes nacionalidades. Contei 56 pessoas, destas apenas uma meia dúzia, seriam habitantes locais. A lancha é propulsionada por 3 potentes motores fora de borda Yamaha de 250 cavalos cada. Construída em fibra de vidro, quase voa. A distância ao destino é grande, passamos por muitas centenas de ilhotas pequenas e por outros cayo. Cerca de 1 hora depois chegamos ao Caulker. O cayo nos pontos mais elevados estará no máximo a menos de um metro acima do nível do mar. As ruas são de areia ligeiramente compactada, as casas são de madeira e algumas, poucas, talvez as mais recentes, são construídas com blocos de cimento. As mais antigas, de madeira estão assentes em estacas de madeira de um metro de altura, o que as torna menos húmidas, mais frescas e mais capazes de suportar os "tsunami" provocados pelos tremores de terra, maremotos e inundações desencadeadas pelos tornados. Os habitantes, assim como um grande número de estrangeiros residentes andam descalços. O lema local parece ser: "no shoes, no shirt, no problem". As cores que caracterizam a filosofia "rasta" - verde, amarelo, vermelho e negro, as tranças, o ar de "ganzados" de muitos dos residentes que nos oferecem "joints" acesas e perguntam de onde somos. Algumas jovens, outras mais maduras passeiam-se de mãos dadas com jovens negros atléticos, os garífunos, descendentes dos escravos e que cultivam muitas expressões da cultura africana como a música e a dança. São aventuras passageiras que terminam no momento de regresso ao país de origem. Muitos dos residentes são europeus ou norte-americanos. E nota-se pela cor do cabelo, pelo bronzeado acumulado, pela forma como se vestem que trocaram as delícias dos países consumistas pela paz, pela calma e pela simplicidade de vida proporcionada pela exploração de um pequeno café ou de uma loja de artesanato no paraíso. São opções de vida que a expressão feliz e tranquila dessas pessoas mostra serem compensadoras. Procuramos um hotel. Mais uma vez os guias de viagem se revelaram enganadores ou a promoção que deram a esses hotéis provocaram um aumento súbito da procura que se traduziu em subida dos preços. É bem possível, pois verificamos que uma enorme percentagem de viajantes trazem debaixo do braço o guia local do Lonely Planet. Passamos a procurar apenas os hotéis não referidos nos guias. Encontramos o Romie & Jims Inn que nos pediu $B40 (16 euros) por uma noite e $B35 se ficarmos mais tempo. Foi um achado pois todos os anteriores rondavam os $B100 (40 euros). Com a vantagem deste dispor de ar condicionado. O único contra é ter sido construído sem respeitar as tradições locais. Está assente numa base de cimento com a altura de 1 palmo acima do terreno amoroso. No interior sente-se algum bafio causado pela humidade. Ligamos o ar condicionado e o problema atenuou-se. O quarto é espaçoso. Os hotéis menos luxuosos, aqui, normalmente, não dispõe de água quente pois não é necessária. A própria água fria pareceu-me demasiado quente. Ficamos duas noites. Sábado e Domingo. Aqui curte-se a vida, o trabalho é uma coisa secundária por isso está quase tudo encerrado e temos alguma dificuldade na escolha de local para jantar. Descobrimos o Pasta Rasta, com esplanada junto à água. O mar do Caribe parece um lago sem ondas. O único senão são os mosquitos que não me apreciam muito mas incomodam as minhas colegas. Pedi um "burrito". É enorme, comi demasiado e senti-o durante muito tempo. A FM e a FR preferiram peixe e marisco. A FR terminou o jantar com um copo de rum. Um turista parou junto da nossa mesa e olhou de soslaio. Algo lhe chamou a atenção. Dirigiu-se a nós em português e perguntou de onde éramos. Conversamos apenas durante alguns momentos pois estava noutra mesa acompanhado por uns amigos estrangeiros. Chama-se Nuno Moreira, é de Lisboa e veio até cá dar uns mergulhos. Após o jantar demos um passeio a pé até à extremidade da ilha que ainda não conhecíamos.
Um tufão em 1961 separou a ilha em duas partes e a passagem criada passou a chamar-se "Split Channel".
Os transportes motorizados na ilha são carrinhos de golfe, silenciosos e não poluentes. A maioria dos residentes usa a bicicleta. Há bicicletas de aluguer para os visitantes.
15.10.2006 Domingo
Levantei-me cedo para ver o sol nascer atrás do mar. Por estar habituado a ver o por do sol sobre o mar dei comigo a pensar se além da inversão do movimento aparente do sol haveria alguma outra diferença. Claro que sim. Um anuncia o dia e o outro a noite. As tonalidades cromáticas são as mesmas e numa fotografia é impossível distinguir a diferença. Mas há mais. A grande diferença passa-se à minha volta. As aves saem das árvores onde pernoitaram e voam sobre a praia à procura de alimento. Se estivesse a observar o por do sol as aves estariam a procurar o refúgio para passarem a noite.
Caminho pela rua principal ainda com pouca vida em parte por ser domingo quando vejo o Nuno Moreira que estava preocupado por os seus cartões não estarem a permitir o levantamento. Vamos até à caixa Atm e desta vez já conseguiu fazer o levantamento. Fomos tomar o pequeno-almoço a um dos poucos cafés abertos às 7h30. Pedi um prato de fruta, chá e torradas com goiabada. O Nuno pediu uma sanduíche colorida e um sumo. Conversamos um pouco e depois dirigimo-nos a uma agência onde se inscreveu numa jornada de "snorkeling" (mergulho). Cartazes com fotografias fascinantes de águas cristalinas cobrem as paredes do pequeno gabinete. Por $B90 (35 euros) vai mergulhar em zonas com corais, tubarões e cardumes coloridos. O preço inclui o aluguer do equipamento, sumos e frutas para o dia. Despedimo-nos trocando os endereços de e-mail pois estava na hora de me encontrar com a FM e a FR.
Voltei a encontrar a Corine que me disse que o Cristophe já tinha partido. Percorri algumas ruas do lado Oeste da ilha em busca de motivos para fotografar. Talvez devido às correntes ou ventos o lixo acumula-se deste lado na águas e nos areais. Latas, plásticos trazidos pelo vento e pelas ondas, assim como outro lixo deliberadamente lançado como máquinas de lavar, frigoríficos, pneus e barcos abandonados criam um aspecto desolador. O futuro deles reside nas condições privilegiadas que a natureza oferece e parece que não se apercebem que o estão a comprometer. Ninguém se importa, não existe planeamento nem nenhuma autoridade responsável.
A FR passou a tarde alternando entre o sol e a água. Ao jantar exploramos os pratos locais e visitamos algumas lojas de souvenirs e artesanato. O desejo de comprar é grande mas nas malas não cabe mais nada e os objectos terão de esperar pelo próximo cliente.
16.10.2006 Segunda
A estadia chegou ao fim. Tomamos a lancha rápida das 7h30 porque o nosso objectivo é tentar chegar chegar ao sul do país ainda hoje. Fizemos várias tentativas para levantar dólares americanos mas acabamos por concluir que tal não seria possível em Belize. Apanhamos o táxi para o terminal de autocarros e compramos bilhetes para Punta Gorda. Tanto o condutor do autocarro como o ajudante foram muito amáveis quer nas informações que lhes solicitamos quer no transporte das bagagens até ao interior do autocarro. A zona costeira do norte e centro de Belize são muito alagadas e pantanosas e por isso o autocarro teve de penetrar bastante no interior do pais até às encostas da cordilheira das Maya Mountains passando por Belmopan, a capital desde 1961, após a destruição quase total de Belize City. Continuamos a descer até Dandringa de novo junto à costa. Fizemos ainda um desvio para ir até a extremidade da península onde fica Placencia. A estrada é estreita e o autocarro reduz muito a velocidade ao cruzar-se com veículos pesados. À medida que nos aproximamos do sul o piso vai piorando e andamos dezenas de quilómetros em estradas poeirentas e com pontes toscas construídas com barrotes de madeira que ameaçam ceder ao peso do autocarro. A certa altura a vegetação e o arvoredo que nos acompanhou até aqui dá lugar a pinhais muito semelhantes aos que encontramos no norte de Portugal. Paramos para almoçar na pequena povoação de Deep Creek que é o porto de exportação da banana.
Nesta localidade entraram no autocarro dois "amish", um casal, ela com as suas vestes longas até aos pés e ele com um chapéu de aba larga, camisa e calças com suspensórios. Pareciam saídos de um filme americano sobre as migrações para Oeste, do início do século passado. São descendentes dos anabaptistas saídos da "ala radical" da reforma protestante que deixaram a Suiça, Alemanha e Holanda e se refugiaram mormente na Pensilvânia e Ohio, nos Estados Unidos, para fugirem às perseguições. Muitos deles radicaram-se também na América Central, nomeadamente nas zonas de San Ignacio e Orange Walk. Pararam no tempo, repudiam todas as modernices como a electricidade e os plásticos e tentam viver como viviam quatro séculos antes. Preferem viver afastados da restante sociedade. Não prestam serviço militar, não contribuem para a Segurança Social e também não aceitam qualquer forma de assistência do governo. Vivem da agricultura. Falavam muito alto, um dialecto em que se identificavam alguns termos ingleses e alemães. Saíram alguns quilómetros depois onde os esperava uma carroça puxada a cavalos.
Ao fim da tarde chegamos a Punta Gorda. Tem o ar de cidade que perdeu muita da importância que teve noutros tempos. Muitos edifícios em ruínas e abandonados e os ainda habitados completamente degradados e com os jardins votados ao abandono. Uma igreja baptista contrasta com tudo o resto pelo aspecto cuidado do edifício e do relvado envolvente. Ficamos num hotel com um quarto muito pequeno mas como não havia muitas alternativas e só ficávamos uma noite não nos fizemos rogados.
Jantamos no restaurante do hotel. Uma volta à noite pelo centro da povoação permitiu concluir que a pobreza é generalizada.
17.10.2006 Terça
Tomamos o pequeno cafezinho construído em madeira e explorado por uma senhora estrangeira.
Compramos os bilhetes para o ferry que nos levará a Puerto Barrios na Guatemala. Custaram $B35 (14 euros). Cumpridas as formalidades de saída e pagos os $B7,5 (2,9 euros) aguardamos no cais a hora da partida. A lancha era idêntica a outras em que viajamos antes. Esta era movida por três motores fora de borda de 175 cavalos cada. Pela primeira vez distribuíram a cada passageiro um colete salva-vidas. As lanchas e ferrys que utilizamos antes não os tinham ou se tinham não eram visíveis e alguns iam tão sobrelotados que em caso de acidente não haveria certamente bóias ou coletes para todos. Já perto de Puerto Barrios vimos uma zona de costa com areal, o que é relativamente raro e com vivendas modernas, com cais privativos e iates luxuosos ancorados. Pela consulta que fiz do mapa penso que se tratava da zona de Punta de Palma ou Balneário Las Escobas.
Puerto Barrios é um porto onde atracam ferrys, barcos de pesca e cargueiros de grande calado. A chegada do ferry deve ser o momento de maior animação do dia na zona do porto da pacata povoação. Taxistas, cambistas, carregadores de malas cercam-nos e dificultam-nos a saída do barco. Cada um tenta convencer-nos de tem o melhor câmbio, o melhor preço de táxi, que representa o melhor hotel. Temos de nos afastar rapidamente pois ainda precisamos de nos apresentar às autoridades da imigração guatemaltecas. A cumplicidade das autoridades com estes negociantes de rua é clara. Os guardas já sabiam que estavam a chegar três portugueses. Estávamos sem dinheiro local, negociei com um dos cambistas para me livrar dos últimos dólares de Belize e contratamos um taxista para nos levar a um banco e depois até Corinto junto à fronteira com as Honduras. Mais formalidades alfandegárias e pedidos de explicações sobre as taxas que nos quereriam aplicar.
Em Corinto apanhamos o autocarro até Puerto Cortez, o maior porto das Honduras. Vagueamos um pouco pela cidade que nos pareceu pouco segura pela profusão de grades, arames farpados e guardas privados armados até aos dentes quer à porta de bancos quer de modestas "tiendas". Apanhamos um shuttle "directo" para San Pedro Sula que só passou a ser directo depois de encher completamente já depois de muitos quilómetros andados. Felizmente tinha o ar condicionado mais eficiente que encontramos em toda a viagem. Em San Pedro Sula recomendaram-nos o Hotel Terraza como tendo preços razoáveis e boa qualidade. Tivemos um simpático voluntário que nos acompanhou a pé até ao hotel que distava alguns quarteirões do terminus do autocarro.
Pagamos pelo quarto triplo 570 lempiras (23,64 euros). Tinha elevador, banho privado, ar condicionado e um luxo que sempre dispensamos - a tv. Jantamos no restaurante do hotel e encontramos o casal colombiano, a Mónica e o Carlos que conhecemos em Antigua na Guatemala no shuttle que nos levou a Penajachel. Mónica disse que iam até La Ceiba uma famosa praia do norte das Honduras onde iam ficar um mês. Eu estava literalmente sem dinheiro local. Tinha gasto as últimas quatro notas de uma lempira a comprar quatro bananas. Eram cerca de 22 horas e resolvi levantar dinheiro. Perguntei à recepcionista onde era a caixa Atm mais próxima. Ela disse-me que era para o lado direito a três quadras (quarteirões). Quando lhe pedi para abrir a porta do hotel que está sempre trancada à chave por motivos de segurança (como em todos os hotéis) disse que me tinha dado a informação porque pensava que eu ia na manhã seguinte de dia. Que era uma loucura sair de noite e se era urgente que então chamava um táxi de confiança. Como não queria estar sem dinheiro fiz questão de sair mesmo assim. Além de alguns alcoolizados e vagabundos estendidos nas valetas e passeios, o único verdadeiro perigo que encontrei foram os inúmeros buracos do saneamento águas ou telecomunicações, sem as tampas. Alguns tem mais de meio metro de lado e a profundidade à noite é difícil de calcular mas vi alguns com mais de um metro de profundidade. Nos dias de chuva alguns enchem de água e quem os pisar a pensar que se trata de uma simples poça cai irremediavelmente e pode desaparecer na profundidade do líquido negro. Será que roubam as tampas para vender como fazem cá com as placas de sinalização de alumínio? Ou então trata-se simplesmente de incúria dos municípios. Este fenómeno è característico das grandes cidades e vi-o tanto em Manágua como em Tegucigalpa, San Salvador ou Guatemala City.
18.10.2006 Quarta
De manhã vagueei na cidade nas proximidades do hotel. Tomei o pequeno almoço com as colegas e fomos ao escritório da empresa de expressos Ticabus comprar os bilhetes com destino a San José. A FM e a FR pretendiam levantar dólares e deslocamo-nos a um centro comercial próximo "The Mall" onde havia vários bancos. As lojas estavam ainda quase todas fechadas porque faltavam uns minutos para as 1o horas. O Centro comercial podia confundir-se facilmente com o Colombo, Vasco da Gama ou Norte Shopping. As lojas, o tipo de arquitectura, as escadas rolantes, as marcas presentes - McDonalds, Nike, Toys'r'Us, tudo é igual excepto os guardas armados com "shotgun" destoando completamente. Conseguido o dinheiro regressamos de táxi ao hotel.
De tarde passeamos pelo centro, compramos alguns colares e pulseiras artesanais de sementes e coco.
19.10.2006 Quinta
Chamamos um radiotaxi às 4h00. Perguntei o preço da corrida até à parada dos autocarros Ticabus. Pediu 100 lempiras (4,15 euros). Ofereci 40. Recusou e foi-se embora. Passou outro que pediu 70, ofereci 50 e ele aceitou. Já se encontravam alguns passageiros a efectuar o check-in. A FR lembrou-se agora que deixou o saco com o pequeno-almoço no táxi.
Deixamos San Pedro Sula às 5h00. Fizemos uma pequena paragem na capital, Tegucigalpa e a Maratona só terminou cerca das 18h00 em Manágua no terminal da Ticabus. Ficamos no hotel situado no próprio terminal. Pediram $28 (22 euros) pelo quarto triplo. As instalações são novas, extremamente limpas, cuidadas, seguras e as camas confortáveis. Temos tudo o que precisamos. Existe também dentro do terminal um pequeno restaurante onde jantamos comida caseira
20.10.2006 Sexta
Acordamos às 5h30, tomamos o pequeno-almoço e só tivemos de percorrer uns 50 metros para fazer o check-in. O autocarro partiu às 7 horas mas como havia rede Wi-fi livre ainda foi possível fazer as últimas chamadas telefónicas para a família e amigos em Portugal. A viagem prosseguiu com chuva intensa durante parte do percurso.
A passagem da fronteira entre as Honduras e Nicarágua excluindo as tentativas dos funcionários da imigração de cobrarem taxas indevidas que todos parecem pagar sem um queixume, connosco tiveram a vida dificultada pois só pagamos o que tínhamos a pagar. De Nicarágua para a Costa Rica os serviços são extremamente exigentes, vistoriam cuidadosamente as bagagens, fazem-nos permanecer em longas filas como se os turistas fossem indesejáveis. Fazem passar o autocarro por um túnel de fumigação e o ignorante do motorista nem sequer desligou o ar condicionado obrigando-nos a respirar os gases de desinfecção.
Em San José chovia mas, mesmo assim, fizemos o percurso até ao hotel com cerca de 1,5 quilómetros a pé com a bagagem. A FR teve mais dificuldade pois prefere a mochila de 95 litros em detrimento da mala com rodas que nestas situações facilita imenso a vida. O argumento era que se transporta melhor em escadas mas não me lembro de ter subido nenhuma desde o início da viagem. Juntando a isso o pé ainda inchado desde Granada devido à entorse ou algo pior.
Escolhemos o Hotel Centroamericano que fica na avenida principal. A localização é boa, os inconvenientes são a poluição sonora e atmosférica que nas horas de ponto se torna insuportável. Já conhecíamos os preços desde a nossa estadia anterior em San José e estão dentro dos nossos parâmetros. Pediu-nos $28 pela diária do quarto mas com o esforço da nossa negociadora oficial os dois dias ficaram por $50 (39 euros). Não tem ar condicionado mas o clima de San José é suave e durante a noite por vezes até se sente a necessidade de um cobertor fino. Há água quente e o quarto é amplo. Tínhamos gostado do restaurante La Casona e voltamos lá pela última vez.
21.10.2006 Sábado
Aproveitamos este último dia en San José para comprar café em grão de produção artesanal no El Trébol (O Trevo). Controlam desde a produção até à torrefacção e moagem que é feita na hora e à nossa frente. Tinham dado as melhores referências desta casa e verificamos pelo número de clientes que tem a preferência dos apreciadores locais. Almoçamos no restaurante onde já tínhamos ido antes e onde comemos peixe fresco situado no interior do Mercado Central cuja fachada já apresenta um aspecto novo pois acabou de ser pintada. Passamos também pelo mercado de artesanato mas os preços dos artigos eram bastante elevados.
Ao fim da tarde fomos a outro mercado quase na periferia da cidade que tinha melhores preços, mas, como as nossas malas estão cheias, aproveitamos apenas para gastar as últimas notas e moedas locais. Passamos também por um supermercado onde compramos fruta fresca descascada e cortada.
22.10.2006 Domingo
O nosso avião parte às 19h40 e ainda não confirmamos a viagem pois ninguém atende na filial da Ibéria de San José nunca atendem. Por precaução partimos para o aeroporto com bastante antecedência. Como dispúnhamos de bastante tempo e o terminal de autocarros distava cerca de 100 metros do hotel dispensamos o táxi que na chegada nos tinha custado $13 (10 €).
Pagamos no autocarro da T.U.A.S.A. apenas 350 colon (0,53 euros) por cada passagem nesta viagem de cerca de uma hora.
A certa altura começou a chover torrencialmente fora e também dentro do autocarro. A passageira à minha frente teve de abrir o enorme guarda-chuva. Quando chegamos ao aeroporto o sol já brilhava de novo. Pouco depois das 20h levantamos voo em direcção a Madrid e agora só nos resta alternar entre comer, ler ou dormir.
23.10.2006 Segunda
Em Madrid mudamos a hora nos relógios e ligamos pelo telemóvel para a família.
A FM fez as últimas diligências junto da Ibéria para tentar reaver a mala perdida durante a ida. Verificamos o desinteresse da companhia por objectos perdidos e transportados como bagagem de mão. Apenas se importam com bagagens despachadas pois aí seriam responsabilizados pelo seu desaparecimento.
Cerca de uma hora depois estamos no Aeroporto Francisco Sá Carneiro a vestir os agasalhos de que não precisamos durante toda a estadia na América Central. FIM DESTA VIAGEM, BREVEMENTE HAVERÁ MAIS...